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Capítulos
5 e 6 :
Números complexos
O matemático Adrien Douady
explica os números complexos. A raiz quadrada dos
números negativos explicada
de forma simples. Transformar
o plano, deformar imagens,
criar imagens fractais.
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1. O apresentador
Os
números complexos
constituem um dos capítulos mais bonitos da
matemática e se tornaram essenciais na ciência. O
caminho da sua descoberta não foi fácil e a
terminologia empregada testemunha esta dificuldade; falou-se de
números impossíveis, imaginários,
e a palavra "complexo" deixa entender que não
é fácil compreendê-los. Felizmente,
hoje, não é mais o caso: podemos agora
apresentá-los de maneira relativamente elementar.
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Adrien Douady é o apresentador
destes capítulos. Matemático excepcional, as suas
contribuições são muito variadas, e
gostava de dizer que todas as pesquisas giravam em redor dos
números complexos. Ele é, em particular, um dos
que fizeram reviver a teoria dos sistemas dinâmicos complexos
da qual diremos, mais tarde, algumas palavras.
Uma
das características desta teoria é que gera
conjuntos fractais muito bonitos que, hoje, podem ser representados
graças aos computadores. Adrien
Douady faz
parte dos que incentivaram firmemente a produção
deste tipo de imagem, para ao mesmo tempo ajudar o
matemático no seu trabalho de
investigação e popularizar a
matemática na sociedade.
Deve–se
a ele, igualmente, um filme de animação
matemática intitulado
A dinâmica do coelho: gostava
de batizar os objetos matemáticos com nomes surpreendentes:
coelho, avião, shadok
(personagem de história de quadrinhos, muito conhecida na
França e que Douady
gostava de citar.) etc. O seu
desaparecimento recente entristeceu profundamente a comunidade dos
matemáticos. Para algumas indicações
sobre a sua personalidade,
ver este
sítio ou este.
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É
claro que mesmo Adrien Douady não pode
explicar toda a teoria dos números complexos em dois
capítulos de 13 minutos... Estes capítulos
não podem substituir um professor, um livro, ou uma
exposição detalhada (ver por exemplo este sítio ou neste, em francês).
É necessário considerar estes
capítulos como complementos ou
ilustrações que incentivam a saber mais ou
como recordações para os que teriam esquecido
remotas lições passadas. Certamente, o filme
procura, sobretudo, destacar o lado geométrico destes
números complexos.
2. Números
e transformações
Vimos
que a reta é de dimensão 1
dado que se pode localizar um ponto sobre uma reta com um
número, positivo à direita da origem e negativo
à esquerda. Os pontos são seres
geométricos e os números são seres
algébricos. A idéia de pensar em
números como pontos ou pontos como números, ou
seja, de misturar a álgebra e a geometria, é uma
das idéias mais férteis da matemática.
Como sempre, não é fácil atribuir a um
só homem mas
é, em geral, a Descartes que se atribui este
método potente de estudo da geometria pela
álgebra: é o nascimento da geometria algébrica. Se os pontos de uma reta
são números, deve-se poder compreender
geometricamente o significado das operações
elementares entre números: a adição e
a multiplicação. A chave
desta compreensão está na
idéia de transformação.
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Por
exemplo, subtrair 1 de
um número x, ou seja a transformação
x-1, é visto geometricamente como uma
translação: todos os pontos são
transladados de 1 para a
esquerda. Da mesma maneira, a multiplicação por 2
é pensada como uma
dilatação.
A
multiplicação por -1 que envia cada ponto x sobre
- x é pensada como uma simetria:
cada ponto é transformado em seu simétrico em
relação à origem. A
multiplicação por -2 é, por
sua vez,
composição das duas
operações precedentes. Multiplicar dois
números significa compôr
as transformações que lhes são
associadas. Por exemplo, a transformação
associada à multiplicação por -1
é uma simetria e quando se efetua esta
operação duas vezes, em sequência,
retorna-se ao ponto de
partida, de modo que o produto de -1 por ele mesmo é + 1. O quadrado de -1 é +
1.
O
quadrado de -2 é + 4
pela mesma razão. Resulta disso tudo que o quadrado de
qualquer número continua positivo. Não
há número cujo quadrado seja igual à
-1.
Em
outros termos, -1 não tem raiz quadrada.
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Cliquem na imagem para um filme.. |
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Por
muito tempo, a impossibilidade de encontrar uma raiz quadrada para -1
era um dogma o qual não se podia discutir. Mas na
época da Renascença, certos espíritos
inventivos ousaram quebrar o tabu! Se se
ousa escrever Ö-1, então se pode
também escrever números como
por exemplo 2 +.3Ö-1 e pode-se igualmente brincar
com estes números de maneira formal, sem estar
demasiadamente tentando compreender os seus significados. Estes
pioneiros então constataram de certa maneira, experimental,
que calcular com estes números impossíveis
não parecia levar a contradições, de
modo que estes novos números gradualmente foram aceitos
pelos matemáticos, sem verdadeiras justificativas.
A
história destes novos números é bem
longa e não é nossa
intenção descrever as etapas que conduziram a
bases sólidas. Poderá ser consultada por exemplo esta página para um pouco de
história. Será suficiente dizer, para simplificar
ao extremo, que por volta do décimo nono século,
alguns matemáticos, incluindo Gauss, Wessel e
Argand, tomaram consciência
do carácter
geométrico destes números imaginários.
O filme mostra uma apresentação simplificada de
uma ideia muito simples
de Argand.
(Cliquem na imagem à
direita para ver o artigo original de Argand.)
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O
número -1 é associado à simetria em
relação à origem sobre a reta, ou
seja, a uma rotação de meia volta. Procurar uma
raiz quadrada para -1 é procurar uma
transformação que, efetuada duas vezes em sequencia,
daria uma
rotação de meia volta. Argand
declara então que a raiz quadrada de -1 deve ser associada
à rotação de um quarto de volta,
simplesmente. Fazer duas rotações de um quarto de
volta, é fazer uma rotação de meia
volta, ou seja, multiplicar por -1.
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Se
se parte
desta ideia, tem-se
vontade de dizer que a raiz quadrada de -1 é obtida a partir
de 1 girando de um
quarto de volta. Certamente, a imagem de 1
por uma rotação de um quarto de volta
não está sobre a reta e acabamos de decidir que a
raiz quadrada de -1 é um ponto que não
está sobre a reta mas no plano!
A
idéia é simples e bonita: Considere os pontos do
plano como números. Então, certamente, estes
não são mais os mesmos números com os
quais estamos habituados. Por esta razão, se diz que os
números “tradicionais” são números
reais e que os números os quais estamos prestes a
definir, associados aos pontos do plano, são
números complexos.
Se localizamos um ponto do plano pelas suas
duas coordenadas (x, y), que
são números reais, a reta da qual partirmos
é a reta de equação y
= 0, e
o ponto que é a imagem de (1,0) pela
rotação de um quarto de volta é (0,1).
É então este ponto que Argand
considera como a raiz quadrada de -1. Os matemáticos, sempre
surpreendidos por este "truque", chamam este ponto
i,
como "imaginário". Dado que queremos números que
se podem adicionar entre si, pode-se considerar o número x
+ iy : ele corresponde ao ponto
do plano de coordenadas (x, y).
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Cliquem na imagem para um filme. |
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Em resumo, Argand
nos incita a considerar os pontos (x,
y) do plano não como dois
números (reais) mas
antes como um só número (complexo). Isto pode parecer muito
surpreendente e talvez artificial, mas veremos que esta
idéia é muito poderosa.
4. Aritmética complexa
A
sequência não é difícil. Após todas as
especulações, define-se um número
complexo z
como sendo dar dois números reais (x, y),
ou seja, um ponto do plano e se escreve z = x + i y.
Trata-se, em seguida, de mostrar que se podem adicionar estes
números complexos, multiplicá-los, e
também que todas as propriedades do cálculo
às quais estamos habituados são ainda
válidas. Por exemplo, é preciso se assegurar que
a soma de números complexos é a mesma qualquer
que seja a ordem em que se apresentem. Tudo isto pode ser feito
rigorosamente, mas este não é o objetivo do
filme. Veja
uma apresentação da teoria dos números
complexos.
Para
a adição é fácil: tem-se a
fórmula
(x+i y) + (x'+i
y') = (x+x')+ i (y +y') de
tal modo que adicionar números complexos é o
mesmo que adicionar vetores.
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Para
a multiplicação, é um pouco mais difícil
(x+i
y).(x'+i y') = xx' + i xy'
+ i yx' + i2 yy' = (xx'-yy') + i
(xy'+x'y)
mas aqui,
com um milagrezinho,
esta fórmula será satisfeita. Por exemplo,
não é de forma alguma evidente, com esta
fórmula, que se podem multiplicar três
números complexos em qualquer ordem para encontrar o mesmo
resultado, ou ainda que se pode sempre dividir por um número
não nulo. Este pequeno milagre não é
explicado neste filme... isto
nos tomaria muito tempo
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Cliquem na imagem para um filme. |
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Duas
noções serão úteis para a sequência:
O módulo de um número
complexo z = x + i y é
simplesmente a distância do ponto correspondente (x,
y) à origem. Escreve-se |z| e
é igual, de acordo com teorema de Pitágoras, a √
(x2+y2
). Por
exemplo, o módulo de i
é igual a 1 e o de 1+i, a √2.
O argumento
indica a direção de z.
Escreve-se como
Arg(z)
e não é nada mais que o ângulo entre o
eixo das abcissas e a
reta ligada à origem a partir de (x,
y).
Este argumento é definido apenas se z
não for nulo. Por exemplo, o argumento de i
é de 90 graus, o de 1
é nulo; o de -1 , de 180 graus; e o de 1
+ i, de 45 graus.
Os matemáticos por muito tempo têm tentado fazer a
mesma coisa no espaço de dimensão 3:
como multiplicar pontos no
espaço? Tiveram que esperar muito tempo antes de compreender
que não era possível. No espaço de
dimensão 4,
descobriram que era parcialmente possível, sob a
condição
de abandonar a idéia que a
multiplicação verifica ab = ba! e terminaram
por descobrir por que na dimensão 8, é ainda
possível, sob a condição de abandonar
a idéia que (ab)c = a(bc),
antes de compreender, no meio do século vinte que nas outras
dimensões diferentes de 1,2,4 e 8, não
há realmente nenhum meio para multiplicar os pontos! Para
compreender algo das frases misteriosas que precedem, pode-se ler aqui, aqui ou acolá.
Em
resumo, os pontos do plano são definidos por só
um número... complexo. O plano que dissemos ser de
dimensão 2
é agora de dimensão 1! Não
há certamente contradição: o plano
é de dimensão 2
real mas é uma reta de dimensão 1 complexa.
Plano real, reta complexa... Dimensão 2
real, dimensão 1 complexa. Jogo de palavras?
5. ... ainda a projeção
estereográfica
!
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Lembrem-se
da projeção estereográfica; ela
transforma a esfera de dimensão 2,
sem o pólo norte,
no plano tangente ao pólo sul. Se um ponto se aproxima do
pólo norte, sua projeção se afasta no
plano de modo que se diz que ela tende ao infinito. Diz-se de resto,
às vezes, que o pólo norte é o ponto
no infinito.
Agora,
se se pensa no plano
tangente ao pólo sul como uma reta complexa, compreende-se
porque a esfera de dimensão 2
(real !) frequentemente
é qualificada de reta projetiva
complexa. Aí está um bonito exemplo de
acrobacia matemática: chamar de reta uma esfera!
Henri
Poincaré,
não dizia ele que a matemática consiste em dar o
mesmo nome a coisas diferentes?
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6. Transformações
( Voir dans le film: Chapitre 6 :
Nombres complexes, suite)
Este
capítulo se propõe a dar um pouco de
intuição aos números complexos
através de certas transformações da
reta complexa. Uma transformação T
é uma operação que associa a cada
número complexo z, ou seja a cada ponto do plano,
outro ponto T(z). Para ilustrar
isto, coloca-se o retrato de Adrien
Douady no
plano e, em seguida, mostra-se a sua imagem pela
transformação: cada pixel
que constitui o retrato é transformado por T.
Adrien escolheu vários
exemplos de transformação T
:
T(z) = z/2
Cada
número é dividido por dois. Certamente, a imagem
é reduzida duas vezes: um zoom ao
contrário! Chama-se
a isto uma homotetia.
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T(z) = iz
Trata se
simplesmente de uma rotação de um quarto de
volta, pela definição de i.
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T(z) = (1+i)z
Dado que o
módulo de 1+i é √2
e o seu argumento é 45 graus, trata-se de compor uma
rotação de 45 graus e uma homotetia
de um fator √2.
Chama-se a isto uma semelhança.
É uma das grandes vantagens dos números
complexos: permitem escrever muito simplesmente as
semelhanças como resultados de
multiplicações.
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T(z) = z2
Esta
é a nossa primeira transformação
não-linear. Ao colocar a foto em dois lugares diferentes,
pode-se tomar consciência dos efeitos da passagem ao quadrado
na reta complexa : os módulos
são elevados ao quadrado e os argumentos são
duplicados. au carré dans la
droite
complexe : les modules sont élevés au
carré et les
arguments sont doublés.
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T(z) = -1/z
Trata-se de
uma transformação semelhante à que
normalmente se chama de inversão. Evidentemente, a origem
que é o número 0, não pode ser
alterada, mas é preciso dizer que ela é enviada
para o infinito. A razão é muito simples: se um
número complexo z se aproxima de 0,
ou seja, se o módulo tende para 0, sua transformada
-1/z tem
um módulo que é o
inverso do módulo de z e, por isso, tende para o infinito. A
transformação tem, então, a
propriedade de "explodir", ou seja, de transportar para muito longe as
pequenas vizinhanças da origem, até sair da tela
... Inversamente, os pontos
que estão muito longe da origem são
"comprimidos" muito próximos dela (da origem).
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Cliquem na imagem para um filme. |
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Durante
muito tempo, livros didáticos deram grande
importância à inversão, o que permite
demonstrar teoremas muito belos. A propriedade principal da
inversão é que ela transforma círculos
em círculos ou retas. Os artistas muitas vezes utilizaram
estes tipos de transformações e lhes deram o nome
de anamorfose.
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De modo mais geral, se forem escolhidos quatro
números complexos a,
b, c, d, pode-se considerar a transformação
T(z) = (az+b)/(cz+d).
Estas
transformações têm vários
nomes em matemática: transformações de Moebius,
homografias, transformações projetivas, mas a sua
principal propriedade é a de enviar círculos em
círculos ou em retas. Este grupo de
transformações é o de uma geometria
magnífica chamada circular, próxima da geometria
não euclidiana, mas
isso é outra história! |
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T(z) = z+k/z
Esta
transformação foi estudada por Joukovski, no seus estudos sobre a aerodinâmica das asas
de aviões!
Mas Adrien Douady
poderia ter escolhido outras transformações, em
particular que lhe dão uma linha mais fina que esta! A
finalidade desta ilustração é mostrar
uma propriedade fundamental deste tipo de
transformações. Evidentemente, elas
não transformam mais
círculos em círculos, só
as transformações de Moebius
o fazem, mas isto é verdade em nível
infinitesimal. Se se
toma um pequeno círculo e se considera a curva transformada,
ela não é um círculo, mas é
muito próxima de um círculo, ainda mais
próxima se o círculo inicial for muito pequeno.
Outra maneira de expressar a mesma coisa é que as
transformações em questão se comportam
como semelhanças no nível infinitesimal. Estas
mudanças são chamadas holomorfas
ou conformes. As raízes grega e latina "holo" e "con"
significam "mesma" e morphe
significa, naturalmente, "forma": em outras palavras, estas
transformações preservam as formas. O estudo das funções
holomorfas
é um dos capítulos mais importantes da
matemática.
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6. Dynamique holomorphe
Na
segunda parte do capítulo 6, Adrien
Douady
propõe uma iniciação a um
magnífico tópico de estudo ao qual trouxe
contribuições essenciais. Trata-se do estudo dos
conjuntos de Julia, que, além do seu
interesse matemático fundamental, é de uma beleza
extraordinária (e as duas coisas estão certamente
ligadas). É raro que uma teoria matemática possa
ser ilustrada de uma maneira tão bonita e numerosos artistas se inspiraram nestas imagens.
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A
idéia inicial é muito simples: escolhe-se um
número complexo c
qualquer. Em seguida, se considera a
transformação Tc(z)
= z2
+ c. Trata-se num primeiro tempo de elevar ao
quadrado um número depois o transladar acrescentando-lhe c.
Partindo de um ponto inicial z,
sua transformação é um ponto z1=
Tc(z),
em seguida, se considera o transformado do transformado z2=
Tc(z1)
e se prossegue infinitamente construindo uma sequência
de números complexos zn
onde cada um é o transformado do precedente. Diz-se que a sequência zn
é a
órbita do ponto
inicial z pela transformação Tc.
Estudar o comportamento desta sequência
zn,
é compreender a dinâmica de Tc.
Trata-se certamente de um exemplo muito simples, mas este exemplo
é suficientemente rico para gerar matemáticas
muito bonitas.
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Considerem
agora o caso onde c = 0.
Trata-se, então, de efetuar de maneira repetida a
transformação Tc(z)=z2
. O módulo de
cada zn
é por conseguinte
o quadrado do precedente. Se o módulo de z
é inferior a 1,
se diz que z está
no interior do disco de raio 1, com centro na origem, e todos os zn
vão permanecer neste disco. Em contrapartida se o
módulo de z
é estritamente superior a 1,
os módulos do zn
vão crescer sem cessar, tendendo para o infinito: a
órbita de z vai
terminar por sair da tela!
No
primeiro caso, se diz que a órbita é
estável: permanece numa zona limitada do plano. No segundo
caso, é instável: foge para o infinito. O
conjunto dos pontos z cuja
órbita é estável é
então o disco.
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De
uma forma geral, para cada valor de c, podem-se também
distinguir dois tipos de pontos
z. A órbita de z por Tc
pode ser estável se ele permanece em uma parte limitada do
plano, ou, instável no caso contrário. O conjunto
dos z
cuja órbita é estável é
chamado de conjunto de Julia cheio
com a transformação Tc.
Compreender a estrutura desses conjuntos de Julia e a maneira como eles
variam quando c
varia é um problema importante da teoria de sistemas
dinâmicos holomorfos.
Como primeiro passo, Adrien
Douady nos
mostra alguns exemplos do conjunto de Julia para diversos valores de c
. Alguns têm nomes exóticos como
coelho (você vê suas orelhas?) para c=-0.12+0.77i.
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Cliquem na imagem para um filme. |
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Sabe-se
a partir do início do século XX que um conjunto
de Julia cheio pode ser de dois tipos. Pode ser, como mostram os
exemplos acima, contido numa única região, conexo,
como se diz em
matemática, ou pode ser totalmente
descontínuo, composto de um número
infinito de pedaços divididos, cada um deles sendo
internamente vazio, o que significa que, claro, não se pode
vê-lo num desenho! Daí,
existem valores de c
para os quais se vê o conjunto de Julia e outros para os quais não
é possível vê-los (mesmo que estejam
presentes). Todos os valores de c
para as quais podemos
ver o conjunto de Julia (para os quais o conjunto de Julia é
conexo) é chamado conjunto de Mandelbrot, para prestar homenagem ao Benoît Mandelbrot, seu inventor. Adrien Douady
trabalhou muito para entender este conjunto; ajudou, por exemplo, a
mostrar que ele é, de fato, conexo
e que teria realmente gostado (como muitos outros) de mostrar que
é localmente
conexo…
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O
final do capítulo é dedicado a um mergulho no
conjunto de Mandelbrot,
mergulho profundo pois o
fator de expansão é de cerca de duzentos
bilhões! Você pode ver esta cena de duas formas.
Olhando e admirando: isto é o suficiente porque é bonito ! Mas você
também pode fazer algumas perguntas ...
Por
exemplo, qual é o significado das cores? Um teorema antigo
diz que o conjunto de Julia de Tc não
é conexo, em outras palavras, se diz que c não
está no conjunto de Mandelbrot,
se e somente se a órbita de 0 por Tc
for
instável. Para um dado valor de c,
se pode, portanto, tomar a
órbita de z=0
para Tc
e observar o seu comportamento para os grandes valores de n. Se zn tornar-se rapidamente muito grande, é
que c
não está no conjunto de Mandelbrot
e até mesmo que está bastante longe. Se a sequência
zn
tende ao infinito, mas mais lentamente, o ponto c também
não está no conjunto de Mandelbrot,
mas está um pouco mais perto. A cor com a qual se colore o
ponto c depende da velocidade de
vôo para o infinito da órbita zn,
mostrando assim a "proximidade" com o conjunto de Mandelbrot. Se, pelo
contrário, zn
mantém-se numa área limitada, então, c
está no conjunto de Mandelbrot
e é colorido de preto.
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Cliquem na imagem para um filme. |
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O conjunto de Mandelbrot
na figura acima foi colorida, desta forma, mas há dezenas de
métodos. No filme, foi utilizado o método chamado
"desigualdade do triângulo": quando o módulo zn
se tornar maior que um certo valor, calculam-se os módulos A=|zn-zn-2|, B=|zn-zn-1|
e C=|zn-1-zn-2|.
A/(B+C) dando
sempre um resultado entre 0 e 1, e se utiliza esse resultado para
indicar a posição em
relação a uma gama de cores.
Porque
em alguns momentos tem-se a impressão de ver aparecerem
cópias pretas pequeninas do conjunto de Mandelbrot?
Isto é
muito mais difícil de explicar e é uma das
importantes descobertas de Adrien
Douady: o
conjunto de Mandelbrot possue propriedades de autosemelhança:
uma característica frequente
dos
conjuntos fractais. Para
compreender tudo isto,
ver por exemplo,
esta
página (em inglês).
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